Porque razão Alexandrina Barbosa é espanhola?

Há alguns dias atrás, num dos comentários a um texto nosso, um leitor desafiou-nos a escrever as razões pela qual Alexandrina Barbosa se naturalizou espanhola e saiu da seleção portuguesa. Aceitamos esse desafio e vamos aqui deixar a nossa opinião sobre esse polémico tema. Para quem não sabe, Alexandrina Barbosa é só uma das melhores jogadoras do mundo…

Há razões de 2 ordens: Uma de ambição da atleta e outra das fracas condições proporcionadas pela seleção nacional. Comecemos por estas últimas. Quando Alexandrina representava Portugal, as condições dadas às atletas eram muito más. Aquilo que as atletas recebiam por cada dia de estágio era menos de metade do que recebem agora. Não havia qualquer cuidado com os equipamentos das atletas, sendo equipamentos dos masculinos, com tamanhos muito acima daqueles que elas vestiam. Era assim que a FAP (na altura ainda se chamava FPA) tratava as suas selecções femininas. Aliás, uns anos antes a FAP suspendeu as selecções femininas, o que diz bem da importância que atribuíam ao setor feminino.

Alexandrina não era a principal crítica do sistema, mas era uma das jogadoras que mais começava a sentir a diferença de tratamento em Portugal. Já jogava no estrangeiro, começava a afirmar-se no andebol internacional, era tratada como uma estrela lá fora e como jogadora de segunda cá dentro. Fica célebre uma acesa discussão com um ex-presidente da FAP quando Alexandrina se recusou a treinar com os equipamentos da seleção.

As seleções femininas eram muito mal tratadas no final da década passada. Mas não podemos deixar também inocente Alexandrina Barbosa. Na altura, a Espanha começou a assediar a atleta oferecendo-lhe um salário mensal durante alguns anos para se naturalizar espanhola (durante o período em que teria que ficar sem representar a seleção para cumprir os requisitos legais). A questão financeira e o sonho de estar presente nas grandes competições como os Jogos Olímpicos, fizeram com que Alexandrina abandonasse a seleção. Alegadamente, no início de um estágio da seleção, Alexandrina disse que não iria mais e abandonou de imediato o local.

Entendemos quem critica Alexandrina por ter renegado a sua pátria em troco de dinheiro e de ambição desportiva. Mas acreditamos que se as condições em Portugal fossem diferentes, Alexandrina poderia ter resistido a sair. Ninguém gosta de ser tratado como lixo.

Hoje, as condições são bastantes melhores. As jogadoras recebem o dobro do que recebiam antes, os equipamentos são femininos e adequados aos seus tamanhos e a imagem das jogadoras da seleção portuguesa é tratada com cuidado. No entanto, numa altura em que tanto se fala de igualdade entre homens e mulheres algumas perguntas ficam no ar: Porque é que o valor diário que as jogadoras recebem na seleção é menos de metade do que recebem os homens? Porque razão a seleção feminina não tem treinador de guarda-redes e as de masculinos tem?

Esperamos com este texto termos respondido aos desejos do leitor que nos pediu para abordarmos o tema. Ficaram aqui as razões pelas quais Alexandrina Barbosa deixou de jogar por Portugal e joga com a camisola espanhola. O que valeria a seleção portuguesa se uma das melhores jogadoras do mundo jogasse com a camisola do seu país? Pergunta que deveria ser feita a quem há 10 anos atrás na FAP olhava para o andebol feminino como um mal que tinha que suportar. Felizmente que os tempos mudaram, mas ainda há muito para mudar.