Mariana Lopes: "Não tenciono voltar ao campeonato português nos próximos 10 anos"




Mariana Lopes é uma das grandes estrelas do andebol português. Atualmente a representar o Boden da Suécia já foi eleita a melhor jogadora do campeonato português e está agora a brilhar na Suécia. Mariana, obrigada por ter aceite o convite para esta entrevista. Ficou contente com a sua época de estreia no estrangeiro?

A minha primeira época no Boden Handboll foi difícil em termos coletivos visto que a equipa tinha acabado de subir para a divisão mais alta do campeonato e a adaptação não aconteceu da melhor maneira. Isto fez com que tivesse de me superar física e mentalmente. O que em Portugal chegava e fazia de mim uma boa jogadora, na Suécia não resultava. Tive de trabalhar a minha finta, visão de jogo e até mesmo alterar o meu remate para ter um braço mais móvel e menos previsível. Os primeiros meses foram difíceis e não conseguia render em jogo mas com muito trabalho fui ganhando o meu espaço na equipa ainda que tivesse de passar a jogar a Central, posição que penso ser o meu futuro no andebol internacional por ser pequena e rápida.

A Suécia é um país muito diferente de Portugal na cultura, tempo, alimentação, hábitos. Como tem sido a sua adaptação a isso?

A adaptação ao clima e à comida não tem sido fácil. Tenho de tomar suplementos de vitamina D porque a falta de sol tem um papel decisivo na performance e mesmo na minha condição anímica do dia-a-dia (em Dezembro e Janeiro apenas tenho sol 1 hora por dia). A cultura e hábitos são realmente muito diferentes mas encaro muitas vezes como diferenças divertidas portanto não têm um impacto negativo. No geral estou a gostar da Suécia e das pessoas que me rodeiam.

Em Portugal estudava e jogava andebol, agora é profissional de andebol, pelo que deve ter mais tempos livres, como os ocupa?

O meu dia-a-dia por norma consiste em dois treinos diários, um a meio da manhã e um a meio da tarde. Quando assim é o descanso é fundamental para a prevenção de lesões e manutenção de performance alta. No entanto, ocupo os meus tempos livres com alguns hobbies, entre eles ver jogos da EHFtv (Liga ASOBAL, Liga SEHA, Champions League...), fotografia, tricô, ler artigos relativos a fisioterapia e claro, ver séries e filmes com as minha colegas de casa.

Qual a jogadora mundial que mais admira?

Nycke Groot, jogadora holandesa atualmente a jogar no Györ ETO.

Se tivesse que eleger o seu 7 ideal de sonho, a nível mundial, qual escolheria?

PE: Siraba Dembélé, França; LE: Andrea Penezic, Croácia (Vardar); Central: Nycke Groot, Holanda; LD: Nora Mork, Noruega; PD: Amanda Kurtovic, Noruega; Pivot: Yvette Broch, Holanda; GR: Karin Grimsbo, Noruega.

O que lhe dá mais prazer: Marcar um golo ou fazer uma assistência?

O que me dá mais prazer realmente é ganhar por isso gosto de contribuir para a equipa da melhor maneira, seja fazendo um movimento para que consigamos marcar golo 10 segundos depois ou finalizando.

Se não fosse primeira linha, em que outra posição se imagina a jogar?

Gostava de ser ponta pela diversidade de remate e duelo direto com o guarda redes mas também gostava da luta física e da importância da posição de pivot por isso é uma escolha difícil. Talvez por ser um pouco impaciente e gostar muito de estar no meio da ação penso que escolheria pivot.

O que falta à nossa seleção para chegar às grandes competições? Há alguns anos, algumas jogadoras queixaram-se da existência de “grupos” que minavam o ambiente. Sente isso?

Penso que maturidade e experiência são a grande chave. Se olharmos para a nossa seleção a média de idades é baixa, sendo que maior parte joga no campeonato português que, comparando com os restantes campeonatos europeus, não é muito competitivo. Isto faz com que cada vez que defrontamos uma seleção mais forte e experiente, mesmo que consigamos igualá-las taticamente, nos momentos decisivos não conseguimos afirmar-nos, como podemos ver no jogo com a Dinamarca há duas épocas e contra a Itália na época passada. Acho também que a mudança de mentalidade que está a acontecer agora em relação a sair para jogar no estrangeiro vai dar frutos em breve e podemos ter uma seleção forte se cada vez mais as atletas se dedicarem ao andebol.
Neste momento o grupo que integra a Seleção A é bastante unido e com bom ambiente por isso não sinto isso de todo, pelo contrário.

Se um dia regressar a Portugal, será para jogar no Alavarium ou admite jogar noutro clube?

Não tenciono voltar a Portugal nos próximos dez anos, se a minha carreira assim o permitir, portanto não consigo dizer em que clube jogaria ou se jogaria de todo. No entanto, voltar a casa seria um bom final de carreira.

Agora, para saciar a curiosidade dos seus fãs:

Prato preferido: sou fã de comida no geral, não consigo escolher.
Filme preferido: Wild
Série preferida: Game of Thrones.

Qual jogadora atualmente a jogar em Portugal que acha que tem mais potencial para jogar no estrangeiro?
Gostaria de ver o verdadeiro potencial da Soraia Fernandes num campeonato com jogadoras do seu tamanho ou maiores, onde seja permitido mais contacto.

Finalmente, a Mariana que agora é profissional de andebol e reconhecida por todos é a mesma pessoa que quando jogava andebol mas poucos a conheciam?

Penso que sim, nunca achei que tivesse muito reconhecimento até porque no andebol feminino em Portugal não existe a divulgação necessária para que isso aconteça. Comparando com a Suécia, em que as jogadoras de andebol são convidadas para fazer anúncios televisivos, Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer nos desportos que não o futebol.


Muito obrigado por esta entrevista e que a sua carreira continue a ser recheada de êxitos!

Comentários

  1. Cá te esperamos Mariana. Boa sorte para a tua auspiciosa carreira.

    Orgulho de ti Alagirl.

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